27 de set. de 2010

O Petróleo é Nosso

Foram necessários quase 40 anos para as atividades de extração petrolífera em solo brasileiro serem regularizadas e mais de um século para a tão sonhada auto-suficiência.
Os primeiros passos nas atividades de extração de petróleo no Brasil foram dados no final do século 19, quando estudos pioneiros sobre exploração mineral apontaram a cidade de Bofete, no interior de São Paulo, como um possível local de extração. As primeiras perfurações no país aconteceram ali, sem sucesso. A atividade de extração de petróleo só voltou à pauta na década de 30, quando multinacionais começaram a explorar o produto no Brasil. Em 1934, o então presidente Getúlio Vargas criou o Departamento Nacional de Produção Mineral, órgão destinado à regularização da atividade. A medida não foi suficiente para o escritor Monteiro Lobato, que iniciou uma campanha reivindicando a nacionalização dos bens do subsolo. O interesse do autor pelo assunto datava de 1927, quando viajou aos Estados Unidos e associou o desenvolvimento econômico daquele país, com suas imensas fábricas de automóveis, à exploração do petróleo, tanto que chegou a participar da criação de empresas de exploração do produto na década de 30. O tema acabou por invadir até o universo ficcional do Sítio do Pica-Pau Amarelo, como na história 'O Poço do Visconde', de 1937.
Curiosamente, o primeiro poço de petróleo perfurado no país foi encontrado na cidade de Lobato, na Bahia, que nada a tinha a ver com o escritor. Monteiro Lobato, no entanto, não viveu para ver o principal marco da luta que travava: a criação da empresa estatal Petrobras, em 1953, fruto da campanha 'O Petróleo é Nosso'. Em seu primeiro ano de funcionamento, com duas refinarias (Mataripe, na Bahia, e Manguinhos, no Rio) e vinte petroleiros, a empresa atingiu a capacidade de produção de 2.700 barris por dia, número 700 vezes menor do que o atingido na ocasião da celebrada autosuficência petrolífera do País, em 2006.
A empresa cresceu num ritmo constante. Em 1961, instalou seu primeiro posto de abastecimento para automóveis, em Brasília. Em 1967, criou sua primeira subsidiária, a Petrobras Química (Petroquisa). Em 1971, abriu a BR Distribuidora.

O grande salto da produção da Petrobras aconteceu em 1974, com a descoberta da Bacia de Campos, no Rio de Janeiro. O poço, que chegaria a produzir 1 milhão de barris por dia, foi encontrado graças à experiência do geólogo Carlos Walter
Marinho Campos, que insistiu na perfuração no local mesmo após ordem de suspensão dos trabalhos, até então mal-sucedidos. No ano seguinte, o governo autorizou a exploração de petróleo em conjunto com empresas privadas, para agilizar a descoberta de novos poços.
Um dos frutos dessa mudança foi Albacora, o primeiro campo gigante em águas profundas, em Campos, descoberto em 1984. O local passou a concentrar os principais investimentos da estatal. A empresa, no entanto, não parou de explorar alternativas.
Em 1993, o governo brasileiro firmou com a Bolívia um acordo de construção de um gasoduto para importação de gás natural.
Apesar dos investimentos, em 1997 o Brasil ainda produzia menos de 60% do petróleo consumido internamente. Naquele ano o então presidente Fernando Henrique Cardoso sancionou uma lei que acabou com o monopólio da Petrobras na exploração do petróleo e criou a Agência Nacional de Petróleo (ANP), para mediar conflitos entre empresas, governo e consumidores. Na prática, a chegada de novos competidores no mercado forçou a Petrobras a modernizar suas operações. Apesar da nova fase, em 2001 a empresa enfrentou uma de suas maiores tragédias - e prejuízos: após uma série de explosões, a plataforma P-36, estimada em US$ 500 milhões e localizada na Bacia de Campos, afunda e mata 11 funcionários. Foi o segundo pior acidente em instalações da estatal, menor apenas que o incêndio na plataforma de Enchova, na Bacia de Campos, que matou 34 pessoas em 1984.
A tragédia não emperrou o ritmo de crescimento da empresa. Em 2003, no aniversário de 50 anos da Petrobras, uma descoberta: uma gigantesca jazida de gás natural em Santos, no litoral paulista. Naquele ano, a estatal fez seus cálculos e decretou que o País alcançaria a auto-suficiência na produção de petróleo em 2006.
No ano previsto, a esperada auto-suficiência foi alcançada. Mas, após a festa, um revés: o presidente boliviano Evo Morales assina decreto que devolve à Bolívia o controle de todos os hidrocarbonetos. Militares e funcionários da estatal petrolífera boliviana YPFB chegam a invadir duas refinarias da Petrobras, que acaba decidindo vender suas instalações para o governo boliviano por US$ 112 milhões.
Em março de 2007, a Petrobras, junto com a Braskem e o Grupo Ultra, oficializa a compra do Grupo Ipiranga. O negócio, no entanto, é colocado sob investigação após a suspeita de vazamento de informações.
Em julho de 2007, o nome da empresa é envolvido em outro escândalo: após investigação da Polícia Federal, 13 pessoas são presas, acusadas de fraudarem licitações de contratos de serviços em plataformas da estatal. Em 3 de agosto, a empresa confirma a compra de 76,1% do capital total da Suzano Petroquímica, por R$ 2,1 bilhões.
O então diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, afirmou que a compra da Suzano Petroquímica pela estatal é um primeiro passo para a consolidação dos ativos petroquímicos no pólo do Sudeste.A Petrobras anuncia a descoberta de uma reserva de cinco a oito bilhões de barris de petróleo e gás de boa qualidade em um poço na área de Tupi, na Bacia de Santos. A reserva é a primeira encontrada pela empresa abaixo da camada de sal, o que significa um poço mais profundo, mas também um produto com menos impurezas. A descoberta pode significar um aumento de 50% nas reservas de petróleo e gás do País, atualmente em 13 bilhões de barris.

Em agosto de 2010, a produção de petróleo no Brasil bateu recorde atingindo 2,078 milhões de barris diários, ultrapassando ligeiramente o recorde de 2,077 milhões de barris registrado em abril, informou a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) . Desde 1999 a ANP realizava leilões anuais de blocos de petróleo, mas há dois anos não vende nenhuma área. A expectativa é de que em 2011 sejam realizados dois leilões, um com blocos no pré-sal da bacia de Santos, se o marco regulatório que implanta o regime de partilha no país for aprovado, e outro para campos em águas rasas e outras fronteiras.
A bacia de Campos continua como o principal pólo produtor, com 1,765 milhão de barris de petróleo no mês passado, ou 84,9%, seguida da bacia do Espírito Santo, com 36,6 mil barris diários ou 3,3%. A Petrobras tem oito dos dez maiores campos produtores do Brasil: Roncador, Marlim Sul, Marlim, Marlim Leste, Barracuda, Albacora Leste e Albacora e Jubarte (10º). As gigantes multinacionais estrangeiras Shell e a Chevron figuram entre as operadoras de dois dos dez maiores campos, com Ostra e Frade.

fontes: Estado de São Paulo e Folha de São Paulo

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Estrada atropela maior lago subterrâneo do Brasil, na Bahia


A pavimentação de uma estrada no sudoeste da Bahia atropelou, literalmente, a caverna que abriga o maior lago subterrâneo do Brasil.

O estrago foi verificado por um espeleólogo e motivou a visita de uma equipe do Instituto Chico Mendes ao local na última sexta-feira.

O órgão, agora, quer descobrir se o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) errou na concessão da licença de um trecho da obra da rodovia BR-135 ou se o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) faz o trabalho num trecho não licenciado.

A vítima principal é o Buraco do Inferno da Lagoa do Cemitério, caverna que abriga o lago de 13.860 m2.

A gruta integra o sistema de cavernas João Rodrigues, no carste (formação de rocha calcária caracterizada por cavernas, que lembra um queijo suíço) de São Desidério, município baiano na fronteira da expansão da soja.

Segundo Alexandre Lobo, do Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas, há mais de uma centena de cavernas na região. Três dezenas delas são consideradas "expressivas" e deveriam estar protegidas. O Instituto Chico Mendes tem planos de criar uma unidade de conservação ali.

ALTERNATIVA

Em 2008, Lobo integrou uma equipe que mapeou as grutas na região de influência da BR-135. O objetivo era sugerir um traçado alternativo para a obra de pavimentação da estrada, justamente para desviá-la do carste.

No mês passado, o espeleólogo foi a São Desidério fazer fotos do lago subterrâneo. "Deparei com desmatamento e terraplenagem e as obras em curso", conta.

"No ponto onde o conduto [teto da caverna] é mais alto, sobre o lago, vi que havia blocos de rocha caídos recentemente", continua Lobo. "Há dolinas [buracos naturais na rocha calcária] entupidas, tudo isso resultado das máquinas que trabalham no local."

A estrada, é verdade, já passava por cima da caverna. Como era uma estrada de terra, porém, o trânsito local era pequeno. Quando o Dnit pediu a licença para pavimentar a estrada, que será usada para escoar a produção agrícola da região, o Ibama aproveitou para corrigir o traçado do trecho problemático.

Segundo o Dnit, 19 km dos 60 km da obra não receberam licença por decisão do Ibama. A obra continuou no restante. Em maio deste ano, o órgão autorizou que o asfaltamento prosseguisse por mais 14 km de estrada.

O Dnit afirmou à Folha, por meio de sua assessoria de imprensa, que a obra em curso se limita ao trecho autorizado. Os outros 5 km embargados, que segundo o departamento corresponderiam "à caverna", continuariam parados, à espera da conclusão do estudo sobre o desvio.

Lobo contesta o Dnit. Ele diz que há obras ocorrendo exatamente sobre a caverna.

"Inspecionamos a obra. Ela está ocorrendo", diz o gerente do Ibama em Barreiras, Zenildo Soares. "Falta definir as coordenadas do local onde ela foi impedida."

O espeleólogo Jussykledson de Souza, que mora em São Desidério, acompanhou na sexta a equipe do Instituto Chico Mendes que foi vistoriar o local. "O teto da caverna está caindo. Vimos blocos caírem", afirmou.

fonte: Folha de São Paulo

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